Residência nos EUA: Clínica Médica

Residência nos EUA: a arte de cair sem alardes

É início de outono aqui nos Estados Unidos, e as folhas das árvores nos ensinam, mais uma vez, a cair sem alardes — como disse Manoel de Barros. Caminhando em frente à Mayo Clinic hoje, antes de mais um plantão da residência, observando as folhas se desprenderem, fui tomada por uma nostalgia, refletindo sobre as quedas que me trouxeram até aqui.

Nosso processo é uma constante de quedas e recomeços, e cada uma delas tem seu propósito, mesmo que nem sempre o compreendamos de imediato.

Quando falamos de quedas, não podemos evitar falar também do medo — especialmente do medo do que os outros vão pensar. Esse receio pode ser uma barreira invisível, mas enorme. Quero lembrar a todos que a opinião alheia é sempre uma visão moldada pela história de quem a emite, e que qualquer julgamento é, na verdade, uma confissão.

Ninguém se importa tanto conosco quanto imaginamos.

O sucesso no caminho para a residência nos EUA passa, acima de tudo, por superar o medo de se expor. Crescer envolve tropeçar — nas questões erradas do UWorld, nos simulados com pontuações decepcionantes, nas primeiras apresentações de caso nos estágios que nos fazem suar frio. O caminho é se lançar sem um plano B. Sem comprometimento total, não há sucesso nesse processo.

Lembro-me bem da angústia de ver meus colegas fazendo cursinho para as provas de residência no Brasil, enquanto eu lidava com o medo do “e se”. E se eu estivesse fazendo um caminho diferente demais? E se desse errado? Também me lembro de ter que adiar o Step 1, após vários simulados sem melhora. A incerteza pesava sobre meus ombros. Assim como no esporte, contudo, o USMLE recompensa a consistência. Ele premia aqueles que, mesmo nos dias difíceis, continuam se levantando — seja para resolver cinco questões em um dia mais pesado, seja para enviar mais uma aplicação para estágio após outra rejeição.

Há uma verdade comum entre todos que deram Match: a persistência diante dos “nãos”. Além disso, o Match pertence àqueles que aprenderam a dizer “não” para o que não é prioridade, para o que não está alinhado com nosso propósito. É sobre escolher o que realmente importa e ter coragem de focar plenamente naquilo que faz mais sentido para nós.

O que mais me sustentou nesse ciclo de quedas e recomeços foram as relações pessoais.

Estar cercada por quem está na arena comigo, que também se expõe e enfrenta os mesmos desafios. A comunidade do Discord do Jornada, com quem estudei lado a lado. As mensagens motivadoras dos meus mentores e, às vezes, os “chacoalhões” necessários para reajustar a perspectiva. Recentemente, já no contexto dos primeiros meses de residência, precisei de um desses lembretes novamente: que o foco deve estar menos na comparação com os outros e mais no meu próprio crescimento. Você está melhor do que estava ontem? Está mantendo a postura de aprendiz? Não importa o que ainda não sei, importa que sei aprender.

Essas relações tornam o caminho não apenas possível, mas também prazeroso. Afinal, o USMLE é só o começo. Tem o Step 1, depois o Step 2CK, as entrevistas, a residência, e quem sabe, mais adiante, o fellowship.

O ponto de chegada está sempre se estendendo, e ser feliz no caminho é essencial.

São as conexões humanas que tornam essa jornada mais leve e divertida.

No fim, o caminho rumo à residência nos EUA é exatamente esse: cair e levantar, com constância e resiliência. Cada queda nos ensina a recomeçar mais fortes, prontos para estender a mão a quem precisar de ajuda, ou, em outros momentos, aceitar a mão de quem está ali para nos erguer.

Com determinação, chegamos todos lá, juntos!”

Picture of Escrito por Carla Borré

Escrito por Carla Borré

Carla é médica pela UFCSPA e completou um MPH (Master of Public Health) em Yale. Atualmente é residente de Medicina Interna na Mayo Clinic. Foi aluna do Jornada e entende a importância de comunidades como essa no processo rumo à residência nos EUA.

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Escrito por Carla Borré

Carla é médica pela UFCSPA e completou um MPH (Master of Public Health) em Yale. Atualmente é residente de Medicina Interna na Mayo Clinic. Foi aluna do Jornada e entende a importância de comunidades como essa no processo rumo à residência nos EUA.

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